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A maior festa popular brasileira, o Carnaval, tradicionalmente realizada em fevereiro ou março, traz para o centro das discussões inúmeros assuntos como álcool, drogas, sexo, entre outras questões.

Neste ano de 2021, em razão da pandemia, essa grande festa deverá ser adiada em algumas regiões do país e em outras até mesmo cancelada. Entretanto, não podemos fechar os olhos para os problemas que ficam mais evidentes no período do Carnaval, mas que no decorrer do ano, e principalmente no verão, têm grande incidência, como é o caso da banalização e objetificação do corpo.

“As consequências disso podem ser danosas em vários aspectos. Primeiro, pelos estereótipos impostos pela própria sociedade que valoriza o corpo sugerindo padrões estéticos irreais. A forma como outro é visto, como se fosse um objeto. E o aspecto da hiper sexualização”, explica a psicóloga do Núcleo Evoluir, Paula Cordeiro.

Quando se fala em padrões estéticos, observamos uma busca incessante de pessoas por tratamentos estéticos, dietas malucas sem o acompanhamento de um médico ou nutricionista, tudo em busca de um suposto corpo perfeito (que, ressalte-se, não existe, é uma construção social). Observa-se uma luta constante pela aparência, esquecendo o lado emocional que pode estar ou ser fortemente abalado.

Com as redes sociais é notável o descontrole desta exposição corporal. “Infelizmente, estamos assistindo essa banalização do corpo cada vez mais e numa faixa etária que não compreende apenas adultos, mas também jovens”, comenta a psicóloga.

A soma de todos esses fatores pode trazer consequências desastrosas para a vida do indivíduo, como transtornos de ansiedade e depressão. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país com maior número de pessoas ansiosas e 86% da população sofre com algum transtorno mental.

“É preciso debater amplamente o assunto, informar, buscar e incentivar ações que esclareçam as consequências da banalização do corpo. Todos são seres humanos e não objetos, precisamos exigir respeito e saber o limite”, ressalta Cordeiro.

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Mais um ano está chegando ao fim e, para muita gente, 2020 vai acabar “finalmente”. Não há como negar que esse ano foi, além de inédito, muito difícil, já que transformou o modo como vivíamos nossas vidas, impondo mudanças drásticas devido a fatores além do nosso controle.

Daqui algum tempo, vamos enxergar 2020 como um ano histórico, daqueles que vão parar nas páginas dos livros escolares, nas telas dos cinemas, nos seriados e novelas da TV. Agora, provavelmente, vemos com alívio seu ocaso e abraçamos com esperança o que 2021 pode trazer.

A pandemia mundial do coronavírus nos trouxe inúmeras perdas, as mais significativas foram milhares de vidas ceifadas, porém, também perdemos saúde mental, liberdade, empregos, estudos, dinheiro e a capacidade de sonhar.

Por isso, 2021 é aguardado rodeado de expectativas, de que a vacina logo chegue, de que a liberdade seja reconquistada, de que a economia se reerga, de que a vida volte a parecer um pouco com aquilo que costumávamos chamar de vida.

Contudo, até que ponto é saudável colocar no novo ano tantas expectativas? É claro que precisamos voltar a sonhar e a esperar dias melhores, mas também devemos ativar nossa racionalidade, para que, caso nossos planos não saiam como o esperado, possamos lidar com isso de uma forma saudável, sem prejudicar (ainda mais) nossa saúde mental ainda fragilizada por todos os baques de 2020.

Para 2021: sonhe, planeje, espere e faça isso sempre com os pés bem firmes no chão. Nós, do Núcleo Evoluir desejamos que em dezembro seja possível respirar e recarregar as energias para que o novo ano seja recebido de braços abertos para tudo o que ele tem a nos oferecer!

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É mês de novembro, é mês de prevenção ao câncer de próstata, o tipo que mais atinge e que mais mata os homens no Brasil e no mundo.

A campanha Novembro Azul surgiu justamente pela necessidade de mudar esse quadro alarmante: 95% dos casos de câncer de próstata são descobertos já em estágio avançado, visto que a doença é assintomática em seu início.

Junte a isso o receio e o preconceito que muitos homens têm – principalmente os que devem fazer o exame anualmente, que são homens acima dos 50 anos (ou 45, caso haja casos de câncer de próstata na família) – e a receita para a descoberta tardia está pronta.

Como em todos os tipos de câncer, quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de cura, que são altíssimas em relação aos casos de câncer de próstata diagnosticados em estágio inicial, daí a necessidade de desmistificar o exame de toque retal.

Realizado por um médico urologista, o exame de toque retal é a melhor forma de descobrir anormalidades e alterações na próstata, uma pequena glândula do sistema reprodutor masculino cuja principal função é a produção de esperma.

É preciso informar o público masculino sobre a importância do exame e, principalmente, em como fazê-lo não é vergonha e não fere em nada a masculinidade. Pelo contrário, é preciso muita consciência para cuidar da própria saúde.

Uma vez diagnosticado o câncer de próstata, é necessário verificar com o médico o melhor tratamento para o corpo, sem esquecer da necessidade de cuidar da saúde mental diante de uma doença tão agressiva.

Nós, do Núcleo Evoluir, endossamos a campanha Novembro Azul, faça isso você também!

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Outubro Rosa é uma importantíssima campanha de conscientização sobre o câncer de mama, que tem como objetivo divulgar informações a respeito dessa doença que acomete milhares de pessoas no mundo todo, principalmente mulheres.

O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais comum entre as brasileiras, ficando atrás somente do câncer de pele, mas é o que possui a maior taxa de mortalidade, tanto no Brasil, como no mundo.

Por isso é necessário que o autoexame das mamas seja feito com regularidade, assim como consultas periódicas ao ginecologista e mamografias. Quanto mais cedo o câncer for descoberto, maiores as chances de cura.

Ao ser diagnosticada com câncer de mama, é imprescindível que a mulher se sinta acolhida por todos a sua volta, desde a família e os amigos, até a equipe médica responsável pelo tratamento.

Com certeza será um período muito difícil, em que o suporte e o apoio adequados serão peças-chave no sucesso do tratamento e na remissão da paciente.

Buscar auxílio psicológico especializado é essencial para passar por essa tempestade, pois além do tratamento físico, é necessário cuidar da saúde mental, visto que o câncer de mama vai trazer mudanças que não são fáceis de assimilar.

Nós, do Núcleo Evoluir, abraçamos essa causa do Outubro Rosa. Abrace você também e não deixe de manter sua saúde em dia!

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O mês de setembro é o mês da prevenção ao suicídio. Durante os 30 dias do mês ocorre a campanha Setembro Amarelo, que tem como objetivo prevenir e reduzir os números de suicídios no país.

 

É graças à campanha que muitas pessoas buscam ajuda. E há também muita gente disposta a ajudar quem está em sofrimento mental.

Mas atenção! Essa ajuda deve ser dada por profissionais capacitados, que podem atender de forma correta e assertiva as pessoas que têm pensamentos suicidas.

 

É muito importante ressaltar que quem não tem formação para trabalhar com saúde mental, não deve se disponibilizar a ajudar, por exemplo, através de posts em redes sociais ou mensagens em aplicativos.

 

Por quê? Porque é extremamente difícil escutar e estar preparado para acolher quem possui pensamentos suicidas e, qualquer ajuda que não seja oferecida com técnica e preparo, pode ativar gatilhos e, ao invés de ajudar, pode levar a pessoa ao suicídio.

 

Mesmo com profissionais capacitados o suicídio pode ocorrer e ele é um fato que pode abalar profundamente quem não tem formação necessária para lidar com isso.

 

Por isso, se alguém próximo a você pedir ajuda, mostre-se disponível para apoiar e indique tratamento adequado, que deve ser dado apenas por psicólogos, psiquiatras, terapeutas ou voluntários do CVV, que numa emergência, estão preparados para escutar.

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Nem sempre o senso comum aponta para a direção correta quando o assunto é preguiça versus cansaço. É o que acontece quando, no imaginário popular, o fato de ficar em casa durante um período de quarentena nos torna mais, digamos, preguiçosos. A psicóloga do Núcleo Evoluir, Paula Cordeiro, refuta essa tese e sustenta que “de forma alguma ela faz sentido. Talvez nesse momento a gente desacelere. Talvez a gente fique mais consciente da real necessidade de fazer tantas coisas e em tão pouco tempo. Podemos selecionar mais nossas atividades e talvez até riscar algumas que estávamos acostumados a fazer. Sendo assim, podemos ter a sensação de que estamos preguiçosos”.

 

Por outro lado, isso não quer dizer que os momentos de preguiça não aparecerão e diferenciá-la em relação ao cansaço das tarefas realizadas em casa (ou no trabalho, home office nesse momento), pode ser até mais confuso, mas será que isso é motivo para nos culpar? “Preguiça é algo que consideramos ruim: pejorativo. Mas a preguiça também é um indicativo de que as coisas não estão em equilíbrio! Preguiça muitas vezes é o nome que damos para um cansaço que não queremos admitir. Nosso corpo e mente precisam de equilíbrio! Trabalhar e descansar, ser produtivo e ficar no ócio. Temos que sempre avaliar qual a pedida do corpo/mente e o que é possível naquele momento. Corpo pede descanso? É possível descansar?! Então qual o problema de passar um tempo no sofá curtindo o momento!? Precisamos aprender que isso também faz parte da nossa rotina e que não há mal nisso”, esclarece Paula.

 

É preciso entender que “o momento da quarentena tem gerado diferentes demandas emocionais e físicas. Agora cuidamos mais da casa, estamos ligados às notícias (que não costumam ser boas) e tentando nos manter vivos. Nos preocupamos com a saúde dos que amamos e com pessoas que nem conhecemos. Também vivemos a ansiedade do não saber, do desconhecido. Tudo isso traz uma sensação de exaustão ao nosso corpo. O cansaço não vem apenas do esforço físico. A quarentena tem nos exigido mentalmente e emocionalmente. Quando nos deparamos com esses sentimentos, podemos tentar vivê-los. A culpa não é algo que faz sentido lógico, mas ela pode aparecer. Se ela aparecer, tudo bem, mas entenda racionalmente que você está em um processo único e desgastante. E que o seu cansaço é natural diante da situação”.

 

A nutricionista do Núcleo Evoluir, Isabella Frisseli, complementa que a “nossa alimentação pode ser uma grande aliada nesses dias de quarentena”.  Segundo ela, todos nós estamos passando por um momento complexo, e a nossa alimentação pode nos ajudar a termos mais disposição/energia para as atividades diárias. O consumo de frutas e verduras variadas, um pouquinho todos os dias, pode nos garantir nutrientes importantíssimos para o estado de bem-estar e disposição. Também podemos recorrer a algumas bebidas energéticas como, por exemplo, o chá verde e o café. Mas é importante lembrar que: nada é bom em excesso e o equilíbrio é a chave de tudo. Essas bebidas estimulantes devem ser ingeridas até, no máximo, às 17h para que não interfira na qualidade do sono, orienta a profissional.

 

Isabella ressalta que o excesso de açúcar e bebida alcoólica devem ser evitados. “Além de serem grandes potenciais inflamatórios para o nosso metabolismo, quando consumidos em excesso podem causar mais sintomas de ansiedade”. O importante é sempre o equilíbrio para que possamos nos manter saudável, uma alimentação balanceada e uma cobrança menos rígida já é um bom começo para isso.

 

Seja na área da produtividade, alimentação, rotina de limpeza da casa, ou qualquer outra atividade que nos envolvemos a palavra de ordem é EQUILÍBRIO. A correria da rotina, do trabalho, e de muitas outras exigências que nós fazemos, nos afasta da comunicação com nosso próprio corpo. “Precisamos continuar trabalhando”, essa é a regra, o custo disso: não ouvir quando o corpo pede descanso. “Preciso emagrecer”, e assim deixamos de ouvir as reais necessidades alimentares do nosso corpo.

 

Aos poucos vamos criando alguns pré-conceitos: “sou preguiçoso”, “não tenho autocontrole”, “não consigo cumprir minhas metas”. E é contra isso que precisamos lutar: somos humanos, e estamos vivendo um período muito difícil. Por isso, a proposta é: vamos viver todos os nossos momentos. Viva a preguiça! Viva a produtividade! Viva cada pedacinho dessa viagem que chamamos vida.

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Afinal, quem não sente medo? Seja qual for a sua expressão, duração ou intensidade, é inegável que o medo é uma emoção universal e tem sua marca suficientemente instalada na história da evolução da raça humana. Por vezes ele pode até parecer ineficiente, dispensável e perigoso no nosso dia a dia, uma vez que percebemos o quanto nos atrapalha a cumprirmos objetivos, alcançarmos metas ou até mesmo executarmos uma simples (mas no fundo, torturante) ação. Já ouviu a frase “se estiver com medo, vai com medo mesmo”? 

 

Há uma tendência natural - que não percebemos, na maioria das vezes, de ignorarmos as perspectivas positivas de um fenômeno e elegermos as negativas para condenar. É aquela velha história de só perceber o erro dentre mil acertos. “Quantas coisas o medo me impediu de fazer”, “quantas oportunidades perdi”, “depois de perder a chance, vi que o medo só me atrapalhou”. De fato, podemos escolher fugir de situações de forma precipitada, desconsiderando uma avaliação racional do que ela realmente significa. Entretanto, vire o lado da moeda, faça o exercício de avaliar a quantidade de eventos em que o seu medo foi eficiente em gerar comportamentos que te libertaram de riscos e perceba, sem muita dificuldade, que graças a sua precaução, você está vivo.

 

Observe o cenário atual e pense: o que seria da humanidade se não tivéssemos informações essenciais para nos prevenirmos de um vírus tão letal quanto esse? Especialistas projetam como o futuro seria caótico se não tivéssemos acesso à informação e nossos mecanismos preventivos são colocados à prova quando pensamos: quão terrível seria? Se hoje estamos cautelosos e seguindo recomendações de autoridades, é porque nos preocupamos com a nossa saúde e a de nossos pares. Mais do que isso, é porque temos medo. 

 

Hoje, é difícil pensarmos em alguma pessoa que não está minimamente temerosa com a crise pandêmica e não passa, constantemente, por pressão psicológica ao tomar cuidados redobrados para evitar que o pior aconteça. Até os mais incrédulos, ora ou outra, se veem confrontados e obrigados a tomarem decisões que zelam pela sua vida. Os benefícios são claros, a vida deles está preservada e o medo, dia após dia, salva suas peles. 

 

Por outro lado, é fácil pensarmos em alguém que está transformando o caos externo em uma batalha contra sua própria obsessão. Nessa guerra, os seus pensamentos catastróficos estão na linha de frente, ofuscando a realidade e deixando-a perigosa demais para sequer pensar em enfrentá-la. Essa pessoa é capaz de gerir combates contra possíveis ameaças que estão longe de ameaçá-la, pois sua visão já carrega uma lente desordenada que ofusca a sua percepção do mundo.  

 

Aqui, nos confrontamos com um paradoxo: o medo pode ser saudável e gerar atitudes eficientes para preservar a nossa vida (e espécie), mas também pode ser paralisante, prejudicando a percepção da realidade, as relações interpessoais, a interação com o mundo e as motivações para agir sobre ele. Os desdobramentos podem ir de graves transtornos a quadros depressivos. Como algo pode deixar de ser saudável e passar a ser tão grave? 

 

No início do alastramento do vírus, a informação do perigo e toda a catástrofe que ele é capaz de fazer estava sob o nosso controle. Nosso medo e ansiedade estavam lá, preparados, porém, contidos. Em um instante de distração, o perigo estava a solta e o perdemos de vista. Agora, basta abrirmos a porta de casa para estarmos expostos a ele. É como segurar um pote de vidro fechado com um escorpião dentro e derrubá-lo, deixando-o fugir. Enquanto está no vidro, sabemos que ele pode nos matar com o seu veneno, mas isso não é possível enquanto o tivermos sob os nossos olhos e controlando absolutamente todos os seus movimentos. Se ele foge, a incerteza e o caos se instalam, pois já conhecemos as consequências letais de uma “picada”.

 

Essa perda de controle das situações atormenta os mais ansiosos, que agora criaram um mecanismo para se defenderem de qualquer coisa que sinaliza o perigo, seja ele apenas um passo para fora da porta, uma voz diferente dentro de casa ou uma possibilidade remota de contágio que nem se tem certeza que é possível. Ora, afinal, tudo que eles querem é ter controle de todas as variáveis para se prevenirem com eficiência e fecharem sua redoma para não darem margem às possibilidades.

 

A obsessão pelo cuidado junto ao pavor do inesperado é a combinação perfeita para o medo e a ansiedade se retroalimentarem. Conforme continuamos atribuindo significado e “veracidade” a situações hipotéticas, estamos alimentando um monstro com fome egoísta e desenfreada, capaz de consumir a nossa racionalidade e nos acorrentar nas suas ilusórias promessas de segurança. O medo paralisante nos impede de ficarmos sensíveis à nossa realidade, aos nossos fortúnios e no quão valioso é poder estar vivo. 

 

Nessa crise pandêmica, é importante atentar-se à duas coisas importantes. A primeira delas são as questões humanas individuais anteriores a um evento crítico. Isso significa refletir sobre as reações frente aos fatos e perceber se o cuidado é condizente com a realidade ou é uma forma sofrida de sanar, temporariamente, uma obsessão. O “acesso ao excesso” também é um dos maiores catalisadores do desencadeamento das tensões psicológicas. A informação só não é mais importante do que a busca pela verdade. Ela pode, sim, trazer desconforto. Entretanto, é mais favorável diminuirmos as chances da ocorrência de crises ansiosas e pensamentos obsessivos e aumentarmos as chances de fazermos o esforço de voltar a nossa atenção para aquilo que temos de precioso: um lar, família, amigos e a própria vida. 

 

Sim, é necessário que tenhamos medo e tomemos atitudes dando a sua devida credibilidade, pois o perigo é real. O escorpião está a solta. Entretanto, este texto serve para que você faça uma avaliação acurada da realidade e da sua reação frente a ela. Ao termos plena convicção de que fomos “picados” pelo escorpião, podemos adoecer ao imaginarmos o desastre que o veneno está fazendo no nosso organismo, quando, na verdade, apenas sentamos em um alfinete. 

 
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Chega o final do ano e as pessoas começam a fazer um balanço sobre o ciclo que está se fechando e traçar metas para o próximo período. O que levar em conta nesse balanço e nesse planejamento? A psicóloga Paula Cordeiro, do Núcleo Evoluir em Londrina, lembra que esse movimento de avaliar o que passou e pensar no ano que está chegando é natural, mas tem muita coisa que precisa ser levada em conta, afinal um ano é um ciclo muito longo. “É muito tempo para afirmarmos que foi só bom ou ruim. Provavelmente, se pararmos para refletir vamos encontrar coisas boas, ruins, neutras e extraordinárias”, garante ela.

É importante sim, acrescenta a psicóloga, fazer uma reflexão do ano que passou, mas desde que seja de forma realista e não pegar apenas os fatos que incomodaram ou os que deixaram mais saudade. “Uma pessoa perdeu o emprego, o que mais aconteceu? Alguém teve um filho, qual outra novidade? Casou, perdeu alguém da família, fez uma viagem dos sonhos, terminou o namoro...o que mais aconteceu além disso? Tanto as coisas boas quanto as ruins podem tomar boa parte da nossa reflexão, mas elas não são tudo”, reforça Paula.

No meio disso, infelizmente, muita gente pode focar só no que foi ruim, nas perdas e se sentir frustrada. E como lidar com as frustrações? Para a especialista, é preciso acolher essa frustração e tentar entender que não se pode fazer tudo. Além disso, afirma, é importante avaliar o que pode ser mudado, entender realmente por que queríamos fazer aquilo que não aconteceu – uma pós, uma viagem, o casamento, a compra de um apartamento, entre tantas outras coisas. “O que é esse planejamento e por que estamos querendo fazer isso? É importante avaliar bem para que em 2020 seja possível fazer um planejamento melhor”, observa.

Falando em 2020, Paula lembra que é muito importante sim fazer um planejamento, mas sempre lembrando que um ano é muito longo e que pode ser muito difícil “organizar” todo o período. “Para isso, autoconhecimento torna-se fundamental. Em primeiro lugar, avalie por que está se propondo a fazer o que planejou”, afirma. Não significa que não se possa planejar nada, mas sim que é fundamental lembrar que no ano, na vida no geral, podem acontecer imprevistos e isso precisa ser levado em conta.

“Nem tudo vai acontecer exatamente da forma que planejamos. É importante saber disso para não termos uma frustração tão grande”. Na hora de planejar, seja gentil com você mesmo, sugere a psicóloga: ao invés de “em 2020 vou todos os dias na academia às 5h30 da manhã” troque por “vou tentar aumentar minha frequência na academia”. “Alguém que deseja cuidar mais da saúde, como fazer? Mudar alimentação, fazer uma caminhada, fazer terapia? É importante determinar alternativas para a nossa meta, descrevê-la melhor”, orienta Paula, reforçando que é fundamental traçar metas de forma mais ampla e que gerem mais possibilidades de sucesso.

Para 2020, a psicóloga recomenda a todos que “procurem viver mais de acordo com seus valores, prestando atenção nas coisas que faz e no por que faz essas coisas”. “Tem gente que quer comprar uma casa, emagrecer, ter filhos, arrumar um namorado, entre tantos outros desejos. Olhe para dentro e analise se realmente quer aquilo, avalie quais são os motivos que te movem”, pontua ela. Viver de acordo com os próprios valores, acrescenta Paula, nos aproxima mais da pessoa que queremos ser. “Então é importante pensar nossas ações de forma que elas caminhem e nos levem para mais perto da pessoa que a gente quer ser”. Feliz 2020!

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Bruna Senhorelli, estagiária do Núcleo Evoluir

Nesta mesma data, 71 anos atrás, era publicada a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Para entender a importância desse documento, é preciso remontar ao contexto histórico e político da época: o fim da Segunda Grande Guerra exigia que atitudes fossem tomadas em resposta às atrocidades cometidos durante o nazismo. A primeira metade do século XX havia sido marcada pela violência e pela barbárie, expressas pelo genocídio de diferentes populações: entre eles, judeus, comunistas e homossexuais. O nazismo pregava que apenas uma parcela da população era digna de direitos: a raça ariana - o que justificava a violência e a morte dos sujeitos que não pertencessem à essa classe. Diante disso, o Pós-Guerra representava uma possibilidade de reconstrução dos direitos humanos, marcada pela universalidade e indivisibilidade destes direitos. Mas o que esses termos significam, afinal? A universalidade e a indivisibilidade afirmam que a condição de pessoa é o requisito único para a titularidade de direitos, ou seja: para ser merecedor destes direitos, basta ser humano - não estando condicionado a nenhum outro critério, como “raça”, cor, condição econômica, religião, opinião política etc.

Além de expressar, já em seu artigo primeiro, que todas as pessoas nascem livres e igualmente dotadas de dignidade, o documento também assegura o direito à vida, à liberdade, à segurança, além de condenar a tortura e a escravidão. Postula também o direito à um julgamento independente e imparcial e o direito de ser considerado inocente até que sua culpa seja provada perante a lei. Assegura o direito ao acesso do serviço público de seu país, à educação e à condições justas de trabalho.

Entretanto, mesmo após sete décadas da publicação, muitos desses direitos ainda estão sendo questionados e desrespeitados. Expressões como “bandido bom é bandido morto”, “tá com dó do bandido, leva pra casa” são cada dia mais comuns em discussões nas redes sociais e em encontros de família, e expressam uma indignação geral com os níveis crescentes de violência. Mas será que a saída é combater violência com mais violência? Ao afirmar que os Direitos Humanos devem existir apenas para “Humanos Direitos”, remontamos que apenas uma parcela da população é merecedora de dignidade, e que todos que não estão inclusos nessa parcela podem ser violentados, mortos, ou viver em condições indignas. Isso lhe soa familiar?

A tentativa de resolver o problema da violência com mais punição é, portanto, uma saída simplória para um problema altamente complexo. Além disso, a punição está a cada dia mais atrelada ao retributivismo e à vingança do que à ressocialização. É preciso se atentar para até que ponto a justiça com as próprias mãos é de fato justa.

Apesar do discurso comum de que os direitos humanos só servem para proteger bandido, o que vemos diariamente é que os direitos humanos não estão protegendo ninguém: apesar da abolição da escravatura ter ocorrido há 131 anos e da DUDH assegurar que ninguém será mantido sob esse regime, estima-se que 160.000 pessoas no Brasil estejam trabalhando sob condições análogas à escravidão. Apesar do artigo 5º da Declaração assegurar que ninguém será submetido à tortura ou castigo cruel e desumano, o que observamos é que situações como essas acontecem diariamente dentro de viaturas, prisões e delegacias, e estão direcionadas majoritariamente à uma população específica: os pobres e negros. Apesar do artigo décimo postular que todo ser humano tem direito à uma audiência independente e imparcial, o que vemos diariamente é que pessoas de diferentes classes e cores têm acesso a diferentes julgamentos: enquanto é comum ver jovens negros sendo presos por portar poucas gramas de maconha, grandes esquemas de tráfico passam impunes, contanto que sejam organizados por homens brancos da alta classe, muitas vezes até políticos.

Apesar de estar claro que muitas injustiças continuam sendo cometidas, à despeito da publicação da DUDH, é necessário considerar o seu mérito: a Declaração deixa claro que  os abusos aos direitos humanos não devem ser tolerados, e sem ela não haveria condições de cobrar a proteção dos mais vulneráveis, representando um importante instrumento para garantir a dignidade dos indivíduos. O primeiro e mais importante artigo do Código de Ética que rege a profissão do Psicólogo afirma que devemos basear nosso trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. É necessário que, em nossa prática, não sejamos coniventes com a violação de direitos,  negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Hoje, no aniversário de 71 anos da publicação, precisamos sim comemorar todos os avanços que foram feitos na proteção dos menos favorecidos, como as mulheres, crianças, negros e refugiados, mas devemos também nos atentar para tudo que ainda deve ser feito, buscando o momento em que poderemos afirmar que os 30 da artigos da Declaração Universal não representam mais um ideal, e sim uma realidade.

Piovesan, F. (2014). Declaração Universal de Direitos Humanos: desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Estudos Jurídicos, 9(2), 31.

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Por Gustavo Menegon - estagiário do Núcleo Evoluir

             Não é simples falar sobre relações entre pais e filhos. A dificuldade não se encontra somente na gigantesca variabilidade de comportamentos que podem ser observados nessas relações, se dá também nas funções que cada um exerce dentro delas – o que é ser aquele que cuida e o que é ser aquele que é cuidado? A partir de uma perspectiva puramente genética, pais são sinônimos de progenitores, aqueles que nos geraram, literalmente nos trazendo à vida. Entretanto, estendendo um pouco a discussão sem sair do campo da Biologia, encontramos o conceito de “cuidado parental”, um fenômeno muito relevante dentro da história evolutiva, principalmente das aves e boa parte dos mamíferos.

            Cuidado parental consiste no investimentode tempo e esforço que certos animais fazem em sua prole. Isso inclui desde buscar alimento para os filhotes quanto lutar até a morte contra um predador para protegê-los, sendo, em resumo, comportamentos que os animais emitem para garantir a sobrevivência de seus filhotes, ocasionando na dispersão de seus genes e na perpetuação da espécie. Esse é um dos fatores evolutivos que permitiu a inúmeras espécies continuarem a existir e, ainda que existam diferentes estilos de cuidado parental, essa variável também está presente na história evolutiva humana, basta observar a vulnerabilidade que acompanha os bebês durante vários anos de seu crescimento.

            A seleção natural pressionou a nossa espécie a desenvolver esse cuidado mais próximo e duradouro com a prole e, através disso, permitiu que relações além das biológicas surgissem, trazendo os pequenos à dimensão social da vida humana. Os pais, entendidos aqui como quem cuida ao invés de laços sanguíneos, normalmente são a primeira instituição que insere a criança em espaços de socialização. É ali onde a criança aprenderá a se comunicar, a andar, se alimentar e outros comportamentos fundamentais para a vida. Entretanto, ensinar uma criança está longe de ser uma tarefa fácil, uma vez que demanda muito tempo e energia dos cuidadores e nem sempre todo esse investimento “dá certo”.

            É comum cuidadores entrarem em contato com sentimentos extremamente aversivos como frustração, raiva, preocupação, medo e muitos outros devido a relação que estabelecem com as pessoas que necessitam de seus cuidados, aos quais podemos nos referir como filhos. Somado a isso existe a construção cultural do valor de serem “bons pais”, a qual permeia as práticas parentais de cuidado e é diferente para cada cuidador– os filhos não vêm com um manual de instruções do que deve ser feito ou qual jeito de cuidar é melhor.

O investimento, seja afetivo, de tempo, de recursos ou qualquer outro feito, além de ser muito custoso, pode ficar mais sob controle da remoção daqueles sentimentos aversivos do que da própria valorização do comportamento de cuidar. Esse contexto contribui para que verbalizações como “você não sabe o que eu faço por você”, “quero ver quando você tiver um filho” ou até “eu não valho nada para você!” apareçam.

            Contudo não é justo culpabilizar os filhos por isso. Ao mesmo tempo que cuida, a família deposita expectativas e exigências sobre eles, acreditando que está construindo um bom caminho a ser percorrido, afinal também passaram pelo mesmo processo de serem cuidados.Porém, e muitas vezes, o que planejaram não condiz com a reais necessidadesdos filhos ou com os valores que eles estãoconstruindo. Num cenário em que transformações culturais ocorrem muito mais rápido do que antigamente, o choque de valores entre gerações se torna cada vez mais potente e desgastante para ambas as partes.

Essas expectativas e exigências podem pesar para quem recebe esse cuidado, e ainda que não aparentem pesar tanto assim, não há como realmente saber seu peso real – a balança dos filhos é completamente diferente da dos pais. Uma mãe pode idealizar e dar todas as condições para que seu filho se torne um renomado profissional da saúde, mas ele não se vê em outra carreira se não em dar aulas de matemática. Um pai pode sonhar dia após dia em ver sua filha subindo no altar com um vestido branco, porém, quem ela realmente ama não pode se unir a ela em matrimônio dentro de uma igreja.

Cuidado, no final das contas, também é sacrifício. Apesar de culturalmente relacionarmos cuidado a amor, como no ditado “quem ama, cuida”, não é saudável fechar os olhos para as consequências que esse tipo de relação pode trazer. O contexto de necessidade de um cuidado mais próximo que os filhos vivem até a idade adulta, em conjunto com uma cultura que valoriza qualquer tipo de investimento como uma maneira de obter algo em retorno, pode criar uma relação de dívida dos filhos para com quem os cuidou. Sobre os ombros, os filhos carregam, além das expectativas dos pais, a responsabilidade de devolver o amor que receberam ao longo da vida.

Isso demonstra que ser filho não é simplesmente ser cuidado, mas também lidar com todos esses fatores adjacentes ao amor que recebem. Quanto à pergunta do título, é complexo dar um veredicto, porém, ao mesmo tempo, é problemático afirmar que é uma dívida. Se for encarado dessa forma, então toda nova geração estará fadada a cumprir o que lhe é arbitrariamente posto pela geração anterior e, caso não consiga, irá sofrer com uma carga emocional decorrente desse “fracasso”, o que pode ser interpretado até como uma “ingratidão” dentro dessa lógica. Além disso, se ser filho, assim como ser cuidado, não é uma escolha, mas uma condição dada, por qual razão devemos depositar tamanho peso em relações que são construídas pelo afeto?

Tratar o cuidado, ou caso prefira chamar de amor, como uma dívida é desperdiçar a leveza consequente dessas interações e colocar mais peso sobre o que já é custoso. É uma dívida que tira subjetividade dos filhos para transformá-los numa extensão da vida dos pais, uma vez que esses não tiveram a oportunidade de viver a sua própria. Suportar esse ciclo de controle aversivo também cria a ilusão de que as pessoas só poderão ser felizes e realizadas quando se tornarem pais, já que somente nesse momento terão contato com o que lhes é importante através de seus filhos. Vale ressaltar que o discurso de “se eu não posso viver isso, meu filho viverá por mim” raramente é explícito para ambas as partes, dificultando ainda mais romper com essa dinâmica familiar.

Diante dessas condições, o diálogo entre pais e filhos se torna fundamental para contrapor essa postura de culpa e exigência. Não é fácil expor nossas frustrações e angústias para com quem amamos, porém é a forma mais funcional de transformar uma relação de dependência em uma de respeito a individualidade do outro.

Referências

MANFROI, Edi Cristina; MACARINI, Samira Mafioletti; VIEIRA, Mauro Luis. Comportamento parental e o papel do pai no desenvolvimento infantil. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, v. 21, n. 1, p. 59-69, 2011.

KOBARG, Ana PR; SACHETTI, Vírginia AR; VIEIRA, Mauro L. Valores e crenças parentais: reflexões teóricas. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, v. 16, n. 2, p. 96-102, 2006.

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