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Psicóloga alerta para casos de suicídio entre crianças e adolescentes

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O número de suicídios registrados vem crescendo assustadoramente no País. Segundo informações da campanha Setembro Amarelo acontecem cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Profissionais se debruçam tentando entender ou mapear gatilhos e causas. A partir dessas tentativas nasceu a campanha Setembro Amarelo: um mês de conscientização e prevenção ao suicídio. A iniciativa cumpriu um papel de imenso valor tirando o tema de um lugar escuro de falta de informações e vergonha e trazendo para a discussão de toda a sociedade.

No entanto, muito pouco se fala sobre o suicídio entre crianças e adolescentes. “Difícil imaginar que os pequenos e jovens adultos possam ser tomados por tamanha tristeza e desesperança a ponto de terminar com a própria vida. Mas isso acontece”, destaca a psicóloga Paula Cordeiro, do Núcleo Evoluir em Londrina. É importante, acrescenta ela, que se tenha entendimento da relação da nossa cultura com esse sofrimento crescente e, em consequência, o número de (tentativas) suicídio. Hoje, lamenta a psicóloga, temos uma cultura exigente e ao mesmo tempo negligente. “Queremos performance, estudos, sucesso, exigimos o máximo das nossas crianças e adolescentes. Eles fazem inglês, natação, judô, balé, aula de dança, reforço na escola, Kumon, entre inúmeras outras atividades. O fantasma do vestibular chega cedo. A pressão por um lugar ao sol no mundo dos adultos também”, exemplifica.

Ao mesmo tempo, lembra Paula, nossa sociedade não abre espaço para que as crianças, adolescentes e mesmo adultos falem sobre sentimentos. Muitas vezes, “pede-se” para as crianças pararem de chorar ou rotulam que os adolescentes são dramáticos. Na avaliação dela, está faltando um pouco de tempo, empatia e conhecimento para acolher os sentimentos das crianças e adolescentes. E assim desenha-se uma panela de pressão: exigências de todos os lados e nenhuma porta para correr.

Dessa forma, tem início as dificuldades e sofrimentos emocionais desse público tão jovem: ansiedade, tristeza profunda, quadros depressivos, transtornos alimentares, dificuldade de foco, entre outros. E por outro lado, pontua a psicóloga, a sociedade apresenta soluções nada adequadas: uso de drogas (lícitas ou não), desenhos, séries e filmes que são usados como recompensas e calmantes, jogos online, comidas gostosas. “Inúmeras alternativas pra não pensarmos na dor. Pra não lidarmos com tristezas, frustrações, ansiedades e outros sentimentos.”, pondera Paula. E às vezes, diz ela, se chega à ultima fuga: o suicídio. “O suicídio, na maior parte do tempo não é sobre morrer, é sobre acabar com uma dor, com um sofrimento muito grande”.

Paula observa que não existe uma fórmula “simples”. “Não há um plano de fuga. Não existe uma receita pronta. Existe, sim, uma mudança de cultura. Uma tentativa de seguir por um caminho em que haja interação. Interesse real na criança, no adolescente, em seus problemas, em suas vitórias. É mais difícil do que parece. Exige tempo (vale mais que ouro hoje em dia), paciência e empatia”, sugere.

A solução não vem na bula do remédio, reforça a psicóloga, está em promover nos adultos, para que esses ajudem as crianças e adolescentes, uma vida com propósitos, valores e aceitação. “Nada disso é simples. Mas é preciso tentar e de forma urgente.”

Paula ressalta que não é o caso de se falar nos "5 sinais de que seu filho está em perigo", mas deixa um pedido aos pais e cuidadores:  “Conversem com seus filhos, escutem o que eles têm pra dizer (de forma real, presente e sem tempo contado). Ensine-os a acolher os sentimentos, diga que às vezes ficamos tristes e frustrados. Ajude-os a encontrar valores, propósitos de vida (não é uma profissão, ou uma meta de classe social, mas sobre como é a pessoa que ele quer se tornar). Passem tempo juntos, de qualidade, entendam que eles sentem dor e que não é drama”. As respostas, garante a psicóloga, não são simples, mas são mais acessíveis.

Além disso, Paula recomenda que em qualquer momento que sentirem necessidade é para procurar ajuda. “Psicoterapia pode ajudar nessas mudanças e novos caminhos. Assim cuidamos de nossas crianças, de nossos adolescentes e do nosso futuro.”