Notícia RELEASE


Por uma sociedade sem manicômios

Arte/Núcleo Evoluir

*Por Jade Miechotek, estagiária do Núcleo Evoluir

O dia 18 de maio é o dia nacional pela luta antimanicomial. A data relembra o início das políticas antimanicomiais nas décadas de 1970 e 1980 através de reivindicações dos direitos dos trabalhadores em saúde mental que atuavam em condições precárias, além dos direitos de pacientes negligenciados nas instituições conhecidas como manicômios, deixando em evidência a necessidade de uma reforma psiquiátrica.

Mas, afinal, o que é a loucura?

Comumente ouvimos frases como "só pode estar louco!". Mas, o que seria esse estado de "loucura"? Em geral, no senso comum, a loucura é popularmente referida a qualquer comportamento alterado ou delirante, resultante, ou não, de algum transtorno psicológico (como na esquizofrenia), em que as pessoas julgam como anormais ou irregulares.

O conceito está estritamente ligado com a concepção de normalidade de cada tempo e cultura. O que hoje podemos considerar como delírio, por exemplo, era considerado como manifestações divinas.

Na psicologia, pela ótica behaviorista, a loucura, assim como qualquer outro comportamento se mantém dada a sua funcionalidade. Visto que não é função tanto ética quanto prática da psicologia atribuir valor a qualquer comportamento e sim identificar o que causa sofrimento e atuar de forma sempre humana, empática, que busca integração do indivíduo e não seu isolamento, dando oportunidade do indivíduo de aprender novos comportamentos e não reforçar comportamentos danosos tanto para o indivíduo quanto para o meio que o cerca.

Hoje em dia é de conhecimento de todos, principalmente dos profissionais de saúde mental, que o modelo de internação manicomial não é suficiente para tratar o paciente e pode até agravar a condição do mesmo. Além disso, existem inúmeras terapias cientificamente comprovadas como eficazes que podem substituir o modelo de internação, através do fortalecimento dos vínculos familiares e sociais do paciente, atividades alternativas e intervenções menos invasivas.

Um grande exemplo desse novo modelo de tratamento são as atividades nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que visam a reinserção social de pessoas com transtornos mentais graves, promovendo um tratamento em comunidade e não mais em isolamento.

A citação abaixo retrata o hino de Sueli Resende sobre as condições do maior hospital psiquiátrico do Brasil, o hospital colônia de Barbacena – cujas condições desumanas alavancaram e serviram de rosto na luta antimanicomial ao retratar as atrocidades cometidas a partir do isolamento social – narrado por Daniela Arbex, no livro Holocausto Brasileiro e que expõe fielmente as condições do hospital e conta as narrativas dos sobreviventes ao holocausto. Um livro impactante e emocionante sobre a política manicomial.

 

Ô seu Manoel, tenha compaixão

Tira nós tudo desta prisão

Estamos todos de azulão

Lavando o pátio de pé no chão

Lá vem a boia do pessoal

Arroz cru e feijão sem sal

E mais atrás vem o macarrão

Parece cola de colar bolão

Depois vem a sobremesa    

Banana podre em cima da mesa

E logo atrás vêm as funcionárias

Que são umas putas mais ordinárias

- Sueli Rezende (Paciente do hospital colônia de Barbacena)

 

A luta antimanicomial não é apenas o compromisso social da psicologia, mas um compromisso de ser humano.

OU

"Um ambiente físico e cultural diferente fará um homem diferente e melhor." (Skinner, 1989, p.84).

 

Referências:


LUCHMANN, Lígia Helena Hahn; RODRIGUES, Jefferson. O movimento antimanicomial no Brasil. Ciênc. saúde coletiva,  Rio de Janeiro , v. 12, n. 2, p. 399-407, Apr. 2007 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232007000200016&lng=en&nrm=iso  

PRADO, Rita de Cássia Ponte. Uma leitura analítico-comportamental da psicopatologia. Ano 01, Edição 02, p. 192 - 395, Nov. 2012/Jun.2013. Disponível em: http://www.faculdade.flucianofeijao.com.br/site_novo/scientia/servico/pdfs/2/Psicologia/Uma_Leitura_Analitico_Comportamental_da_Psicopatologia.pdf