Nem sempre o senso comum aponta para a direção correta quando o assunto é preguiça versus cansaço. É o que acontece quando, no imaginário popular, o fato de ficar em casa durante um período de quarentena nos torna mais, digamos, preguiçosos. A psicóloga do Núcleo Evoluir, Paula Cordeiro, refuta essa tese e sustenta que “de forma alguma ela faz sentido. Talvez nesse momento a gente desacelere. Talvez a gente fique mais consciente da real necessidade de fazer tantas coisas e em tão pouco tempo. Podemos selecionar mais nossas atividades e talvez até riscar algumas que estávamos acostumados a fazer. Sendo assim, podemos ter a sensação de que estamos preguiçosos”.
Por outro lado, isso não quer dizer que os momentos de preguiça não aparecerão e diferenciá-la em relação ao cansaço das tarefas realizadas em casa (ou no trabalho, home office nesse momento), pode ser até mais confuso, mas será que isso é motivo para nos culpar? “Preguiça é algo que consideramos ruim: pejorativo. Mas a preguiça também é um indicativo de que as coisas não estão em equilíbrio! Preguiça muitas vezes é o nome que damos para um cansaço que não queremos admitir. Nosso corpo e mente precisam de equilíbrio! Trabalhar e descansar, ser produtivo e ficar no ócio. Temos que sempre avaliar qual a pedida do corpo/mente e o que é possível naquele momento. Corpo pede descanso? É possível descansar?! Então qual o problema de passar um tempo no sofá curtindo o momento!? Precisamos aprender que isso também faz parte da nossa rotina e que não há mal nisso”, esclarece Paula.
É preciso entender que “o momento da quarentena tem gerado diferentes demandas emocionais e físicas. Agora cuidamos mais da casa, estamos ligados às notícias (que não costumam ser boas) e tentando nos manter vivos. Nos preocupamos com a saúde dos que amamos e com pessoas que nem conhecemos. Também vivemos a ansiedade do não saber, do desconhecido. Tudo isso traz uma sensação de exaustão ao nosso corpo. O cansaço não vem apenas do esforço físico. A quarentena tem nos exigido mentalmente e emocionalmente. Quando nos deparamos com esses sentimentos, podemos tentar vivê-los. A culpa não é algo que faz sentido lógico, mas ela pode aparecer. Se ela aparecer, tudo bem, mas entenda racionalmente que você está em um processo único e desgastante. E que o seu cansaço é natural diante da situação”.
A nutricionista do Núcleo Evoluir, Isabella Frisseli, complementa que a “nossa alimentação pode ser uma grande aliada nesses dias de quarentena”. Segundo ela, todos nós estamos passando por um momento complexo, e a nossa alimentação pode nos ajudar a termos mais disposição/energia para as atividades diárias. O consumo de frutas e verduras variadas, um pouquinho todos os dias, pode nos garantir nutrientes importantíssimos para o estado de bem-estar e disposição. Também podemos recorrer a algumas bebidas energéticas como, por exemplo, o chá verde e o café. Mas é importante lembrar que: nada é bom em excesso e o equilíbrio é a chave de tudo. Essas bebidas estimulantes devem ser ingeridas até, no máximo, às 17h para que não interfira na qualidade do sono, orienta a profissional.
Isabella ressalta que o excesso de açúcar e bebida alcoólica devem ser evitados. “Além de serem grandes potenciais inflamatórios para o nosso metabolismo, quando consumidos em excesso podem causar mais sintomas de ansiedade”. O importante é sempre o equilíbrio para que possamos nos manter saudável, uma alimentação balanceada e uma cobrança menos rígida já é um bom começo para isso.
Seja na área da produtividade, alimentação, rotina de limpeza da casa, ou qualquer outra atividade que nos envolvemos a palavra de ordem é EQUILÍBRIO. A correria da rotina, do trabalho, e de muitas outras exigências que nós fazemos, nos afasta da comunicação com nosso próprio corpo. “Precisamos continuar trabalhando”, essa é a regra, o custo disso: não ouvir quando o corpo pede descanso. “Preciso emagrecer”, e assim deixamos de ouvir as reais necessidades alimentares do nosso corpo.
Aos poucos vamos criando alguns pré-conceitos: “sou preguiçoso”, “não tenho autocontrole”, “não consigo cumprir minhas metas”. E é contra isso que precisamos lutar: somos humanos, e estamos vivendo um período muito difícil. Por isso, a proposta é: vamos viver todos os nossos momentos. Viva a preguiça! Viva a produtividade! Viva cada pedacinho dessa viagem que chamamos vida.