Notícia RELEASE


O sentimento de autoestima como aliado na proteção contra relacionamentos abusivos

Grande parte das pessoas que chegam aos consultórios de psicologia vivem (ou viveram) relacionamentos abusivos. É com tristeza que acompanhamos histórias – não apenas na clínica, mas de amigos, familiares e conhecidos – em que percebemos claramente relações de submissão, exploração e controle, que se mantém por anos entre casais que vão se “ajustando” a essa realidade que traz tantos malefícios ao bem-estar emocional dos envolvidos. Mais preocupante ainda é observarmos que esse tipo de relação, no pior dos desfechos, acaba culminando em crimes contra a vida das pessoas, em sua grande maioria mulheres.

Por que esse fenômeno tem ocorrido? O que podemos fazer para evitá-lo?

Sabemos que são inúmeras as variáveis que interferem no processo pelo qual os relacionamentos amorosos se desenvolvem. Lidamos com influências culturais, históricas, familiares, sociais e pessoais. E nesse conjunto todo, conseguir destacar variáveis que se relacionam de forma mais intensa na construção de relacionamentos amorosos saudáveis significa uma grande conquista.

Como todo relacionamento interpessoal, os relacionamentos amorosos também exigem de nós algumas habilidades para a condução saudável desse processo que vai se refinando com o passar do tempo. A direção que ele toma somos nós que estabelecemos. Habilidades como a assertividade, a empatia e o respeito pelos direitos da outra pessoa são essenciais. No entanto, um grande balizador das nossas interações amorosas, que não pode ser negligenciado, é o nosso sentimento de autoestima. Ele é nosso escudo, nosso protetor contra os possíveis abusos e desmandos do outro.

O sentimento de autoestima é o sentimento de amor e valor que nutrimos por nós mesmos.

Ele começa a se desenvolver a partir das nossas primeiras interações sociais, só sendo possível através do contato com outras pessoas. Desde quando nascemos, ao experimentar o sentimento de amor dos nossos pais por nós, começamos a perceber o nosso próprio valor. A palavra-chave aqui é amor incondicional. A criança precisa ser amada incondicionalmente pelas pessoas que estão próximas a ela. Independente dos comportamentos que apresenta, dos acertos ou erros, de ser mais calma ou agitada, bonita ou feia (se é que existe criança feia...), o importante é sentir-se amada verdadeiramente, é ter segurança desse amor. As primeiras relações com os pais são muito significativas nesse processo, mas a partir do momento que o círculo de interações sociais da criança vai se ampliando, ela passa a ter a oportunidade de sentir esse tipo de amor de outras pessoas que também sejam significativas para ela. Sentindo-se amada pelo outro, aprende a amar a si mesma.

A partir do momento que você reconhece o seu valor, fica muito mais fácil identificar comportamentos de ‘desvalor’ vindo do outro. Quando você tem convicção de que merece ser tratadocom respeito, carinho e amor, quando sabe que só vale a pena dividir a sua vida com alguém que te valorize e que sinta orgulho de tê-lo ao seu lado, torna-se bastante improvável sua permanência em um relacionamento meia-boca, abusivo, controlador ou algo desse tipo.

Nesses casos, a condição de estar sozinho não se configura como um problema, pois existe a certeza de que logo encontrará alguém que saiba lhe dar o valor (e o amor) de que é merecedor.

Autora do texto: 
Psicóloga Ms. Renata Moreira - CRP 08/07087 - Analista do comportamento, relacionamentos amorosos e autoestima.